quinta-feira, 6 de junho de 2013

O apascentar de Deus para nós: Salmo 23

“O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta. Em verdes pastagens me faz repousar e me conduz a águas tranquilas; restaura-me o vigor. Guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome.  Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem. Preparas um banquete para mim à vista dos meus inimigos. Tu me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice. Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida, e voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver” (Sl 23.1-6. NVI).
Dos salmos escritos pelo pastor-rei, este certamente é um dos mais desafiadores para nós. É o Salmo que apresenta o Deus-pastor. Davi usa as metáforas do pastor, da ovelha e do hospedeiro para expressar uma verdade bíblica. Deus na pessoa de seu filho Jesus Cristo é o Pastor que dá a vida por suas ovelhas (Jo.3.10-16).

No texto acima citado, o Deus que pastoreia se revela como aquele que apascenta o seu rebanho. Isto implica em exercer cuidados como, alimento, água, tratamento de possíveis ferimentos, os cuidados com a lã e proteção contras as feras predadoras. Nisto, de nada as ovelhas terão falta (v.1). Assim como o pastor humano cuida das ovelhas, Deus haverá de cuidar de cada um, e isto de forma exclusiva. 
Na imensidão do rebanho que está sobre os cuidados do sumo Pastor, ele cuida de cada um de maneira pessoal e exclusiva. Todos fazem parte do mesmo rebanho e são pastoreados por um único Pastor, preservando assim a unidade, numa relação intima e profunda com o rebanho. Ele conhece de maneira individual as necessidades de todos, isto porque ao contrário de alguns pastores humanos, o pastorado de Deus é para todos. Ele não tem predileto. Todos de maneira pessoal podem buscar um relacionamento com ele, lançando sobre ele suas ansiedades, dores, perdas, conflitos, frustrações, falta de animo, em fim, tudo que uma ovelha necessita para sobreviver e seguir em frente na busca da espiritualidade.
No sustento das ovelhas há fartura de pasto verde e água em abundancia (v.2). As ovelhas deste pasto jamais passarão privações de fome e sede, pois é Cristo que as sustenta. Ele é o pão da vida e a água viva que jorra para a vida eterna (Jo. 6.48; 4.10,14). Uma vez alimentados por Cristo pro meio da revelação em sua palavra, as ovelhas poderão se fartar dos benefícios oferecidos pela maravilhosa graça de Deus revelada na pessoa Jesus Cristo. Serão nutridos com vitaminas e carboidratos espirituais fornecendo assim energia e vigor para que possam prosseguir na caminhada. A reflexão das escrituras acompanhada de oração, nos levará a termos um relacionamento profundo e sincero como o nosso Pastor, desfrutando assim dos seus cuidados.
Aqueles que pretendem seguir o Pastor e fazer parte do rebanho deverão estar informados de que a prioridade aqui não é o suprimento material e sim o pão vivo e a água viva que sustenta a vida espiritual do rebanho. Mesmo estando sobre os cuidados pastorais de Cristo, não estamos imunes ao sofrimento, provações, perseguições e tribulações no decorrer da caminhada (v.4). Como ovelhas sempre estaremos sujeitos aos perigos que rondam ao nosso redor. Como um lobo devorador que procura atacar e dispersar o rebanho, as ovelhas não estão livres dos falsos ensinos que são proliferados pelos falsos mestres e profetas contemporâneos.
Deus em sua infinita misericórdia utiliza dois instrumentos indispensáveis a um pastor. A saber, o cajado e a vara. O primeiro serve para guiar, ajuntar as ovelhas para que elas não se dispersem pelo caminho e ao entardecer não retornem ao curral. O Pastor dos pastores sempre se esforçará para manter a unidade do rebanho, com desejo de que todos estejam juntos e em lugar seguro levando suas ovelhas para perto de águas tranquilas, onde os animais ferozes não tem o hábito de visitar para saciar sua sede voraz.
Em trilhas perigosas, onde o pastor poderá encontrar vestígios ou informações da presença de animais ferozes, ele se utiliza da segunda ferramenta. A vara. Esta, ao contrario do cajado que tem a ponta encurvada, para não machucar a ovelha, mas apenas guia-las e trazê-las para perto do rebanho, tem sua ponta aguda e afiada para afugentar os animais selváticos, como lobos, leopardos, e outros. Semelhantemente acontece no pastorado de Deus. As ovelhas poderão andar por lugares sombrios e perigosos onde os lobos disfarçados com pele de ovelha tentarão atacar e se possível destruir a fé do rebanho oferecendo e divulgando falsos ensinos. Estes não são pastores, mas mercenários disfarçados (Jo.10.12).
O supremo pastor afugentará o lobo devorador, e nos guiará para lugar seguro. É lamentável alguns dos pastores humanos se utilizando apenas da vara, não para afugentar e enfrentar corajosamente os animais ferozes, mas para maltratar, ferir e dispersar as ovelhas de Deus. É bom lembrar que não somos pastores, mas apenas coo pastores, cooperadores de Deus no cuidado do rebanho, pois Cristo é o único pastor. Não há “pastor ungido”, pois o único é o Cristo (em grego Χριστός, Christós, “O Ungido” ou “O Consagrado”).
O fato é que todos nós pastores estamos debaixo da unção de Cristo, totalmente dependentes dele. Ai dos pastores que não se submeterem ao pastoreio de Cristos, pois ele é o nosso único e suficiente Pastor (Ver Ez.34).
Enquanto suas ovelhas estão trilhando por caminhos perigosos, ao mesmo tempo Deus nos honra com um farto banquete na presença dos nossos inimigos regado de unção com óleo (v.5). Uma maneira de liberar para as ovelhas em tempos de tribulação acolhimento e conforto. No oriente antigo,  era comum a pratica de ungir os hospedes com óleo dando-lhes uma sensação de segurança e conforto, prática atribuída por parte dos anfitriões. Assim também é o nosso Pastor. As portas de sua casa estão sempre abertas para receber e acolher suas ovelhas e assim fazer morada eterna nele (v.6). Aqui, é revelada a experiência da dupla habitação. Deus habitando dentro de nós, visto que somos morada de Deus (Ef.2.22) e nós habitando dentro dele (Sl.23.6), e é por esta razão que o pastoreio é também exclusivo e individual pois habitando em nós, Deus conhece de forma total e completa a profundidade de nosso ser. O tratamento, a unção com óleo para cicatrizar as feridas de possíveis ataques de animais, acontecem em meio a esta profunda e maravilhosa relação do humano com o eterno.
Este pastoreio é eterno. Enquanto nossa função pastoral é temporal, limitada e cheia de falhas, sempre necessitada de aperfeiçoamento, o pastoreio de Cristo é perfeito e eterno. Ele cuidará de nós tanto do lado de cá, como do outro lado da eternidade. Estas são as promessas pastorais reveladas em sua palavra, ele cuida e sempre cuidará. Ainda que sejamos abandonados pelo pastor humano, o Deus-pastor cuidará de nós por toda a eternidade. Seu desejo é que caminhemos nesta direção, estar à disposição do pastor eterno para ser pastoreado por ele, e pastorear seu rebanho juntamente com ele, não com a pretensão de ser dono do rebanho, mas estar apto para servir como cooperadores do Reino, no exercício da fraternidade, do perdão, do suportar uns aos outros, do acolhimento, do apascentamento.